Porque viver, sobrevivendo, é uma questão de simplicidade...

Por aqui estou há meia hora, à janela de lua ao peito, escutando as palavras que jorram na minha mente, frase após frase, ideia após ideia…
Dou uma passa mais longa no eterno cigarro, e surge..
( “O Contador de Histórias” – Empedernido velho marinheiro que, ao cair da tarde, se senta na rocha da ponta do molhe e…. dia após dia, resmunga para quem quer ouvir, a mesma história, palavra após palavra sem perder o fio…. Conta a historia sonhada ou vivida de uma mulher que, por amor, vestida de homem embarcou em caravela de longa distância… só para estar junto do seu amado… e como… e como Neptuno ciumento de tal dedicação, se vingou… )
Pois… Hum… mais uma passa, desta vez lançada em esfumada dança até ao negrume do céu…
( “Terapia da Concha” – A forma como uma mulher se cansou de Ter, de Andar, de Pensar, de Contribuir, de Planificar, de Fingir, de se Esforçar e… decidiu, num dia de ventania desenfreada, que a colheu dentro do carro em plena autoestrada em regresso a casa, decidiu apenas… SER. )
Apago o cigarro que quase me queima os dedos, afogando-o no meu cinzeiro preferido, uma lata velha de red bull cheia de água, perdida no beiral da janela…
( “A Barbie” – O percurso de vida de um menino, de precoce voz grossa mas cara de bebé chorão, que adorava brincar com as velhas Barbies da irmã, e as convidava com cavalheirismo, a tomar um chá no estalado e gasto servicinho de faz-de-conta…. )
Olho de soslaio para o maço, tentando contabilizar quantos cigarros estão livres, sem comprometer o vicio de amanhã…
( “A bola de gelado” – Hum…. Sei lá…. A minha mente está a amainar… Imagino a história de uma típica aluna de liceu dos anos 80… apostada em ser a melhor, a mais pontual, assídua, limpinha nos cadernos e na ponta dos dedos… com o cabelo sempre em ordem… na pasta tem sempre tudo o que pode ser necessário, aconteça o que acontecer… acaba por ser popular por facultar aos colegas os seus perfeitos apontamentos das aulas… e claro que deixa copiar nos testes… sem pestanejar… A vida corre-lhe tão bem que … nem acredita quando… numa amena cavaqueira de colegas depois as aulas, no café habitual da esquina, fica paralisada a olhar um enorme gelado que o empregado lhe coloca à frente, dizendo que é uma oferta dos amigos do 9º B” )
Decido pôr o isqueiro a descansar, torcendo o nariz quando percebo que as náuseas estão a chegar.
Fecho a janela, enquanto a minha mente se esvai em pulsares vazios, e eu me sinto …. Cansada, tão cansada que me atiro para a cama desejando que a noite não passe e eu possa dormir durante um ano!
E então, por preguiça, desleixo ou falta de amor próprio, não escrevo nada.
Deixo as ideias estúpidas lá fora ao sabor do vento.
Pode ser… até pode…. Que um dia…. Sei lá…
Até lá, sei lá… olho-me no espelho e só sinto uma vontade imensa de (me) dar um murro nas trombas!