Porque viver, sobrevivendo, é uma questão de simplicidade...
Sábado, 22 de Abril de 2006
O prometido é devido

Aqui ficam as fotos do Antes e Depois e o que escrevi na altura da operação que fiz (Abdominoplastia).

Julguem por vocês mesmos que valeu a pena o sofrimento...

17 de Março de 2006

 

É HOJE! É HOJE!

 

Incursão no mundo do bisturi….

 

 

Todos vocês já me conhecem um pouco, principalmente os que me acompanham desde o início por aqui.

 

Moral da história:

 Sou a mulher complicada mais simples desta vida!!

 

Gosto da minha rotina, de estar preparada para tudo o que possa acontecer, deixando o gosto pelo desconhecido e todos os desvarios que me assolam, para o mundo dos sonhos…

 

Esta operação foi, no entanto, um pontapé bem valente no rame-rame dos meus dias..

 

Olhava à minha volta e pensava que toda a gente estava ali porque tinha de ser.

 

Apenas esta ave rara estava ali por querer!

 

 

 

Chegamos à clínica um pouco antes da hora marcada.

Fiquei cá fora a queimar cigarros atrás de cigarros, de estômago enrolado, pensando se me teria esquecido de alguma coisa que me fizesse falta.

 

Tendo em conta que no dia anterior não consegui ir trabalhar, tais eram os vómitos e a diarreia, e o tamanho do saco que arranjei, era difícil faltar fosse o que fosse.

 

Olhei para a minha amiga sentada na sala de espera.

Falava ao telemóvel ao mesmo tempo que folheava uma revista, aparentando uma calma que não consegui descortinar ser aparente ou verdadeira.

 

É incrível como nos conhecemos há tão pouco tempo, e já estamos juntas a embarcar numa viagem destas..

 

Quando começaram a chamar, demos o braço uma à outra (para ser sincera, colei-me a ela como uma lapa!) e gracejámos que éramos siamesas, pois as fulanas da recepção diziam não poder garantir que ficássemos juntas no quarto.

 

Com esta mania, ficámos 2 horas de castigo à espera na sala que vagasse um quarto.

 

Por fim lá nos chamaram.

 

Começámos a arrumar as roupas no roupeiro, quando chegou uma enfermeira:

 

-“D. Fernanda, vista a sua camisinha e vá pôr este microlax por favor”

 

Nem tive tempo para pegar no clister.

À porta já estava perfilhada a sombra de uma maca, prontinha para levar uma de nós.

 

E a quem calhou a honra?? Aqui à Je é claro!

 

Vesti a bata, calçaram-me umas meias elásticas todas “chexys”, e deitaram-me na maca, enquanto resmungavam que era tudo feito em cima do joelho!

 

De pezinho atrás por esta inusitada pressa, enquanto me transportavam, dei comigo a pensar que “PÕEM-ME A DORMIR O TANAS antes que eu veja o MEU médico, não vão trocar-me o processo e eu saia da sala de operações sem algo que me faça mmuuuiita falta”!

 

De repente lá aparece.

 

Não o meu médico, mas outro, simpático e atencioso, envolto naquele arzinho verde-burrié que lhes confere a cor da bata e da touca.

 

Fez-me uma festa no ombro, olhou-me com olhos escuros-atentos mas impenetráveis, e começou a debitar a conversa do costume-penso-eu-nestas-situações.

 

Deve ser o Anestesista – pensei – enquanto lhe respondia de olho lançado para o fundo do corredor, pois nada de sinal do Dr. Macemino, e eu já estava com vontade de fugir dali, mesmo gorda e meio nua!

 

Puseram-me a soro (milagre! Não doeu nada!), e surge outra pessoa envolta naquele  verde- escarreta (não podiam arranjar uma cor mais catita para aquelas coisas? Sei lá, assim um vermelho paixão, um laranja por do sol ou mesmo um azul-mar em dias de bonança), mas não era o MEU cirurgião.

 

Comecei a ficar mesmo nervosa e pensei…. “Se me vão medir a tensão arterial, correm comigo daqui em três tempos e vou ter de fazer de bife no talhante noutro sitio qualquer….o que talvez não fosse má ideia, nem me deram tempo de fazer a toilette, devo cheirar mal por todos os poros, tou doida para fumar um cigarro e só me apetece GRITAR!!”

 

Fechei os olhos sentindo-me invadir pela sensação desconfortável do completo desconhecido.

 

Se não fossem as palavras suaves, quase meigas, do anestesista, acho que tinha desatado a correr dali para fora, condenando-me a uma gravidez eterna, pelo menos na aparência…

 

Finalmente lá ouvi o timbre inconfundível da voz do Dr. Macemino.

Sim, era ele. Que alivio!

 

Lancei-lhe o maior sorriso que me foi possível, tendo em conta que não tinha prótese dentária, e respirei fundo de alivio (again) pois parecia-me bem disposto.

 

Bem, devia ser a 3ª ou 4ª vez que o via, e nunca me pareceu mal disposto, mas tendo em conta de que estaria dali a pouco de bisturi em punho escortanhando a minha lauta pança, até convinha que o almoço lhe tivesse corrido bem…

 

Enquanto me preparavam para a grande facada, o meu cérebro corria a mil, pensando os maiores disparates, como por exemplo o que será que leva uma pessoa a tornar-se médica, pior, cirurgião, pois deve ser um grande nojo, muitas horas de estudo e de  trabalho, a disponibilidade quase total, pois algo pode correr mal e o sentido de responsabilidade deve ser um pouco mais pesado do que o de um padeiro ou assim…

 

Confesso que é uma classe profissional que admiro muito, pois lidam com o ser humano no seu aspecto mais exposto, mais carente e vulnerável, mais nú.

 

Era exactamente assim que eu me sentia.

Exposta até à alma. Vulnerável que até dava dó. Assustada até ao limite do aceitável.

Quase me sentia ridícula.

 

Ali, à espera que aquelas pessoas me fizessem renascer de novo, apagando todo o tempo perdido…

 

Não sei o que me misturaram no soro, mas fui-me sentindo mais descontraída, tomando atenção à excelente música ambiente e mantendo a memória nos olhos cortantes e profundos do meu cirurgião…

 

Nunca tinha visto uns olhos assim…

Normalmente os olhos cortantes são frios e inquisidores.

Os dele, não.

São cortantes porque trespassam, conseguem ver para alem daquilo, ou daquele a quem olham.

Não são olhos doces, mas tornam-se meigos à medida que lhes vamos descobrindo laivos mais difusos e menos definidos.

 

Mas permanecem quase sempre inacessíveis, embora a boca sorria, e o trato seja do mais afável que há.

 

É um trato afável que não cheira a forçado, flui dele naturalmente, fazendo-nos sentir bem e seguras. Bem vindas…

 

Ok! Eu sei perfeitamente que a especialidade médica que ele escolheu, não lhe deixa grande alternativa, mas enfim, é algo que se tem ou não se tem e pronto!

 

Durante toda a operação, sonhei que estava nas Caraíbas.

Imaginam só???

 

A areia quente e macia debaixo do pés, o azul profundo e límpido do mar a ronronar aos meus pés, a sensação de completo descanso e preguiça.

A languidez do tempo parado…

A quase luxúria do corpo sem tempo e sem espaço…

 

Quando comecei a acordar e a sentir pontadas de dor, tinha ao meu lado uma enfermeira meia-leca (já repararam como as enfermeiras são cada vez mais baixinhas? E bonitas, é claro), que a sorrir me perguntava como estava o Havai…

 

Não tive força para lhe sorrir, sentia uma sede de morrer, e só me apetecia gritar de dor e de desalento, não sabia onde estava a minha amiga, a sala estava escura e eu pensei… “será isto o Purgatório??? TIREM-ME DAQUI!!”

 

Ouvi uma voz masculina ao meu lado.

Era um enfermeiro que, suavemente, me explicava que estava na sala do recobro, que ainda não podia beber agua, mas que me molharia os lábios com a frequência que desejasse, e que me tinham colocado uma algalia ou lá como se chama o raio do tubo enfiado pela uretra, pelo que fazer xi-xi não seria preocupação.

Disse-me também que os tubos que me saiam da barriga eram drenos, muito importantes, e não eram para puxar.

Fez-me uma festa na cabeça e afastou-se para outra cama.

 

(Como raio é que ele adivinhou que quando eu tivesse forças, ía arrancar aquela treta toda e por-me a andar dali, hem???).

 

Eu e hospitais nunca nos demos bem.

Das 6 vezes que estive internada, 3 fugi assim que me senti bem.

 

Mas ali era uma clínica, o pessoal era todo simpático e concerteza eficiente, e tudo ía correr bem…

 

Fechei os olhos tentando relembrar as Caraíbas, aquela sensação de torpor quase pecado, mas em vão.

 

Finalmente chegou a maca com a minha amiga.

Ficou perpendicular à minha.

Tentei chamá-la, mas não consegui. E ela gemia bastante, começou a vomitar e decidi deixa-la em paz.

 

Entre gemidos e promessas de pesadelos, a noite passou, sem darmos conta.

 

18 de Março de 2006

 

A cinta onde me tinham enfiado era uma autêntica tortura.

A minha barriga parecia estar cheia de lâminas que ao mínimo movimento se cravavam na carne.

A minha amiga, coitada, fartava-se de vomitar e devia ainda de ter mais dores que eu, pois fez duas operações.

Finalmente, apareceu um anjo em forma de médico!

O meu médico!

Foi como um raio de luz naquela sala escura.

Ganhei a certeza de que nos levaria dali para o nosso quarto, onde ao menos o sol entrava!

 

E não me enganei.

Observou-nos, sempre com meiguice e uma pontinha de humor (com aqueles olhos únicos que chispavam força), e disse-nos que estava tudo bem.

 

Fomos levadas para o quarto, onde finalmente  pude sentir um laivo de conforto. 

 

Passamos esse dia e o seguinte a maldizer a nossa vida, eu mais desanimada que a minha amiga, porque tenho grande resistência aos analgésicos por tantos tomar, não conseguia estar deitada de costas por causa da coluna, e não podia por-me de lado…

 

Mil vezes resmunguei que se soubesse que era assim, não me tinha metido nisto (opinião que hoje já não tenho é claro!), revi mentalmente algumas asneiras da minha vida (chegando à conclusão de que as faria de novo… ), dei uns valentes suspiros de dor e quando o médico chegou ao final do dia a minha cara devia ser tal coisinha agradável, que ele me perguntou se  estava aborrecida.

 

Olhei-o de soslaio (estava sem forças para enfrentar olhares directos), esbocei um sorrisito amarelo e disse que não, que queria apenas voltar para casa…

 

Pois, às vezes dava taaanto jeito uma língua emprestada, não é???

 

Porque o que me apetecia responder era;

 

“Ó DOUTOR, TÁ PASSADO OU QUÊ?? ABORRECIDA, EU?? Nãããã, qual quê!

Aqui estou à sua frente, descabelada e mal cheirosa, cheia de pontos, com umas olheiras até aos pés, cheeiinha de dores! OK, o pessoal é impecável, o senhor é um querido que veio ver estas malucas a um domingo, ainda por cima Dia do Pai, mas eu tenho mesmo é MAU FEITIO de nascença e não há nada a fazer!!!OK?????”

 

 

O que seria uma grande injustiça se assim tivesse respondido, porque o Dr.Macemino é o 1º médico humano que conheço, no sentido em que nos trata como seres humanos e não como números de processo, tem um paciência de Jo e uma competência pouco esperada num medico tão novo.

 

PORTANTO, MEUS AMIGOS E AMIGAS DA BLOGOESFERA, se alguma vez pensarem em dar um jeitinho nalguma parte do v/ corpo que se torne disforme e/ou incómoda, não hesitem.

Clínica de Santo António em Sacavém – Dr. Macemino Gomez.

 

Para completar a odisseia bisturistica, tivemos alta nesse dia à noite, e na segunda feira acordei aos ais, mas na minha santa caminha!

 

Não sei quanto tempo levarei a recuperar, mas assim que me sentir em condições, irei trabalhar.

Obrigado SINCERO pelos vossos mails, comentários, sms e telefonemas a desejar rápidas melhoras.

 


sinto-me:

publicado por Fernanda às 12:32
link do post | favorito

De Leonor Costa a 11 de Agosto de 2017 às 19:48
Maria, venho comunicar-lhe, caso não saiba ainda, que o Dr.Macemino Gomez faleceu recentemente.
Li o seu post e até tirei uma cópia pois acho muito interessante. Na realidade o nosso Dr. Max foi um ser de eleição e inesquecível.

Não sei se será possível identificar-me. O Dr.tem facebook e se poder acessar a ele, tem lá muitas inforações. Está em Manuel Macemino Gomez Gomez.
O meu e Leonor Costa.
Abraço
LEONOR




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