Quem me conhece na “realidade” sabe que a minha vida é casa-trabalho e vice-versa (convém… o vice-versa..)…
Não vou às compras, não vou sequer beber café ao fim de semana, não saio para lado nenhum a não ser quando sou obrigada…
Tenho o meu tempo contabilizado quase ao segundo e tudo o que me faça sair da rotina me complica a vida e os nervos, e atrapalha o dia-a-dia (por exemplo, ter de ir a Lisboa ao hospital ou a casa da minha mãe, estraga-me a semana toda…)
É como se eu funcionasse como uma máquina de engrenagem montada, numa gestão apertada de (poucas) forças e tudo o que seja a mais, tem consequências penosas para o meu estado físico e mental… Tenho de me “resguardar” para o que é importante, como vir trabalhar e tratar da minha família e casa…
Há alturas em que me revolto tanto com isto, ou porque tive um convite fixe de amigas para sair, ou a minha família quer ir passear, ou eu mesma sinto necessidade de “arejar” e ver outras paragens…
Mas infelizmente, em 99 % dos casos, mesmo que eu me encharque em cafeína e medicação, o estado doloroso e de debilidade é tanto, que não consigo ir a lado nenhum…
São poucas as pessoas que entendem isto, e já perdi amizades por estar sempre a dizer “não”… pensam que é por preguiça, por mau feitio, por ser parva, sei lá…
Mas não é. Infelizmente. Gostava de ser “eremita” por opção e não por imposição..
A semana passada, pela 1ª vez, ouvi “ao longe” o meu filho mais novo a dizer que estava com fome, e não consegui sequer mover-me para ir tratar dele…
Não consegui ter qualquer reacção… apenas deixei rolar as lágrimas pela cara abaixo e fechei os olhos..
Acabei por adormecer vestida, calçada e de óculos na cara, em cima da colcha, de janela do quarto escancarada, sem jantar ou tomar a medicação da noite, porque estava petrificada de cansaço e o meu corpo e mente bloquearam de todo…
Quando acordei de manhã “assarapantada”, tentei perceber porque me tinha acontecido aquilo, (tinha de encontrar justificação para o injustificável)..
Levantei-me a custo, fui ver como estavam os filhotes, bebi a “injecção” de cafeína que me arrasta da cama até à cozinha, onde me espera outra que bebo ainda sentada no sofá, enquanto espero que o dia nasça e as restantes forças apareçam para começar a labuta do dia…
E entretanto percebi…
No dia anterior tinha acordado também de madrugada, depois correu um dia de trabalho com bastante movimento, e por fim, tive uma unnusual reunião que correu muito bem (e até me soube tão bem ir até à Casa do Adro, onde não ía há 20 anos..), mas me fez chegar a casa perto das 8 da noite, com 15 horas de trabalho em cima do pêlo…
Portanto, se para uma pessoa que não tenha os meus achaques já seria difícil, quanto mais para mim..
Não tenho então de me sentir impotente nem culpada por não ter conseguido dar o jantar ao meu filho, e para não volte a acontecer ficar em estado quase comatoso, tenho de me cuidar!
Não sei bem como, a minha colega de serviço foi de merecidas ferias e eu vou estar um mês a entrar às 9 e a sair às 18.30…
Não sei se terei forças… a ver vamos e um dia de cada vez, como os bêbados…
Já não sei porque comecei com este “conversê” todo…
E se calhar não devia estar aqui a lamentar-me, porque já há quem diga que não faço mais nada, como se isso servisse de lição ou desse forças a alguém, ou pelo menos a mim…apenas humilha e envergonha ainda mais…
Mas escrever lava a alma, acalma as dores e aquieta os medos, mesmo que mais ninguém leia ou se interesse…
E JÁ SEI PORQUE me saiu da ponta dos dedos este blá blá todo!
Vinha do almoço e olhei para o meu carro, que é o único que está no estacionamento aqui da junta, no meio do polvoró das obras…
O carrito já é velho e então assim no meio de alcatrão levantado, bulldozers e caterpillars por todo o lado, até dá vontade de rir… ou então chorar…
E vinha então do almoço, olhei para o charrueco e pensei…
“Se tivesse tempo, ía à papelaria a Loures ver se encontro um daqueles autocolantes para colar no vidro traseiro e que dizem..
MY OTHER CAR IS A PORSHE!!!”
Mar em mil voltas murmurado, apertado em mãos e corpo sedentos de sal, de agua por todos os poros..
Ai Mar…
Que sal dos meus olhos não toleraste, que cada lágrima que me salte em saudade mal vivida, tu sempre secas e lanças ao ar em mil gotas rarefeitas…
Ai Mar..
Que em ti me recebeste de novo, como se pura fosse de vez e outra vez, me deste embalo em cada passar de onda, me enrolando em prazeres esquecidos por proibidos..
Como te pagar, Mar, ouvires em atenção desmedida os meus lamentos torneados em dança de leveza que cá fora já não encontro, os ouvires com atenção antes de os desfazeres em espuma de bolas de sabão…
E em ti, meu Mar, me encontrei, em cada carícia doce e salgada que me desfez também em sal e areia milenares, me renasceu, bateu e ardeu até não aguentar mais, desfeita e agradecida me tornou à costa..
Para um dia, um dia, meu Mar e meu Amor, quem sabe eu poder fazer de ti o meu sal, o meu sol, todos os dias, todos, de aroma fresco, intenso e único, em simbiose perfeita que rocha alguma poderá tornar intransponível..
Ai Mar…que morro de saudade por ti!
Podem não acreditar, mas estive este tempo todo sem postar nada, PORQUE ME ESQUECI da palavra de acesso ao blog! Mais, esqueci-me até do mail a que este blog está associado...
Hoje, ao procurar outra coisa (que obviamente não encontrei), lá dei com um post it amarelo desmaiado e todo encarquilhado, com a palavra passe desta coisa no fundo de uma gaveta...
Toda a gente sabe que a PDI faz destas coisas (não em relação à incapacidade inata de ter as coisas arrumadas para saber onde estão), mas há parte de mim que se recusa admitir que tem de recorrer a auxiliares de memória...
(também estou a precisar de uma lupa para além das lunetas, pelo menos para ler) mas ainda não me apetece dar parte fraca!)...
Seria a altura de quiça discorrer sobre o facto de, cá dentro, muitos de nós terem adormecido ontem com 20 anos, e acordaram hoje com 45 ou lá perto, portanto...
Deixa-me mas é ir trabalhar e deixar-me de filosofias baratas e crises existenciais de trazer por casa...