O meu fiel amigo de 10 anos de caminho, morreu ontem, poucas horas depois de lhe ter tirado esta foto.
Passaram 10 anos, desde o dia em que o tirei do caixote do lixo aqui de frente (a mãe tinha-o rejeitado à nascença, talvez porque não tinha cauda – OLHA!!! Já percebi! Comigo deve ter sido o mesmo, por não ter cauda..), e passei 2 meses a dar-lhe leite a conta gotas, de hora a hora, dia e noite, e a traze-lo comigo num cestinho, com saco de agua quente e toalhetes.
Lá consegui que ele sobrevivesse. Para que conste, a mãe e as irmãs, lindas e brancas como a neve, já morreram há muito tempo!
Sendo o cão mais feio e estranho vi até hoje, além muito independente, não deixou de saber perceber os momentos em que eu estava mais em baixo, para vir pousar a cabecita no meu colo, como se dissesse “não serve de muito, mas estou aqui!”.
Suportou com dignidade a intrusão de todos os bichos que eu trouxe para casa ao longo dos anos, incluindo gatos e ratos, alem de outros cães, defendendo sempre o seu posto de “chefe”.
Ontem de manhã não apareceu do seu passeio de costume.
Fomos dar com ele à beira da estrada, tinha sido atropelado. Estava vivo mas não se mexia.
Corremos para a veterinária que lhe fez uma radiografia.
Tinha a bacia partida.
Voltámos com ele para casa, depois de levar uma injecção para as dores, e passámos a tarde a mimá-lo.
No final do dia, a veterinária veio a nossa casa para o abater.
Fui eu que a ajudei.
O meu bichinho apenas fechou os olhos, como se fosse adormecer.
Em grande paz.
Quando a noite caiu, fizemos o funeral.
O Migo e a Yeti uivaram o tempo todo.
Eu sei que há dores maiores, mas quem tem animais sabe que eles se tornam membros da família…
E o Blackie à sua maneira, gostava mais de mim do que certas pessoas.
Assim, fico um pouco (muito) mais só……
A principal característica, na minha modesta opinião, que define o ser humano como tal, é o livre arbítrio.
Não sei se está consignado na Declaração dos Direitos Humanos, mas é um direito que até Deus respeitou.
O direito à escolha.
A liberdade de acção, sobreposta ao puro instinto que rege o mundo animal.
O direito que cada pessoa tem de seguir o caminho que quiser, de escolher quem e o quê faça ou não parte da sua vida.
Se escolha é bem ou mal feita, ninguém tem o direito de formular juízos de valor.
Mas este direito colide muitas vezes com o dever da responsabilidade.
A responsabilidade que todos nós temos sobre o efeito que as nossas acções e omissões têm nos outros, desde as coisas mais simples, como nas questões mais complicadas.
Neste intrincado de teias sociais, muitas vezes esquecemo-nos desse dever, ou fingimos que não sabemos que ele existe...
Valham-nos os Principezinhos desta vida!
Se me perguntarem o que eu quero..
Quais são os meus sonhos, projectos, demandas, interrogações metafisicas, reflexões existenciais, tarefas a levar a peito...
Hum.... Deixa-me pensar...
Para ser sincera, a única coisa que eu quero mesmo é que....
O resto da minha vida corra sem sobressaltos.