Pensava que passando a barreira dos 40 (ai… já a passei há quase 2 anos….), se iria verificar uma mudança automática na forma de sentir as coisas.
E realmente, isso aconteceu durante um tempinho.
Cabeça erguida, barriga encolhida e peitaça prá frente, que o mundo é meu e que se lixem aqueles que não me gramam…
Análise racional e pouco profunda dos problemas, gratidão q.b. pelo que de bom tenho, confiança no futuro, apesar das previsões mentereológicas, pezinhos assentes na terra, blá blá blá
Qualquer coisa do tipo em que toda a gente possa dizer: AI COMO A MENINA TÁ CRESCIDINHA! JÁ É UMA MULHER!!!
Não tenho dúvidas que já sou uma mulher.
Com alguns encantamentos de menina de que não me consigo livrar, felizmente apenas relativos a bens materiais, ou seja, pareço uma miúda pequena quando me põem à frente um embrulhinho com um grande laço! Ou um embrulhão amarrado com cordel, não interessa!
Além de adorar receber e dar presentes, ainda acredito em unicórnios azuis, fadas e duendes irlandeses (e apenas esses), e ando a pensar se aceito de vez a possibilidade de acreditar no Pai Natal.
Ou seja, se ainda ninguém percebeu o que estou para aqui a debitar, o que eu quero dizer é que … sim…. Cresci.
Tenho responsabilidades e insónias que não mo deixam negar.
Mas com o desenrolar destes dias de Setembro, pude verificar que há coisas que estão de tal forma empedernidas no Ser de cada um, que não há qualquer volta a dar.
No meu, como vocês todos já sabem, é a “crise existencial-ó-pedagogica-filosófico-pixicológicó-tramadinha” desta altura do ano.
Aliás, tenho a certeza de que, se me desse ao trabalho de ir ao arquivo desta altura do blog, veria escritas mais ou menos as mesmas palavras.
Porque, anos após ano, os sentimentos são os mesmos.
A raiva surda, a sensação de injustiça, o amargo de boca por não conseguir entender como é possível, a dôr lancinante e ridícula, tipo faca espetada no peito e na alma, que nesta altura se retorce e contorce…
Tenho tido azar.
Os poucos filmes ou séries que tenho visto, lá aparece algo para me avivar a memória.
Ele é o filho que descobre que é adoptado e mesmo depois de morto, quer conhecer a mão biológica (série “Contacto” uma bosta que dá na Fox), que acaba por lhe dizer que o ama, apesar de ele estar mortinho…
Ou então, é a mãe desesperada e com remorsos, que procura incessantemente o filho(a) que deu para adopção, com aquela carinha “se o arrependimento matasse!”, que é mal recebida quando o (a) encontra, mas acaba sempre tudo em bem, com abraços e beijinhos…
Coisas do género.
Pois. Filmes.
Na realidade, é bem diferente.
E quando ouvimos noticias de que os pais desta ou aquela criança a maltrataram e acabaram por matar, muitos nós pensamos que mais valia que a tivessem abandonado à porta de um orfanato qualquer.
É verdade.
Mas acreditem.
Eu estava preparada para tudo.
Para ser mal recebida (ainda pior?), para ser abraçada com emoção, cheguei a imaginar mil e um cenários…
O que não é difícil, tendo em conta a minha galopante imaginação…
Mas não estava preparada, após tanto tempo de busca e vãs esperanças, não estava preparada para a indiferença.
Completa e perfeita indiferença.
Que tanto lhe faz que eu esteja bem ou mal, que viva ou morra.
Pura e simplesmente não existo.
E se, no fundo do poço, ainda cheguei a pensar que essa seria uma forma de defesa por ela não conseguir suportar a dor de me ter perdido, desenganem-se os mais crédulos.
É pura e fria indiferença.
Aos meus apelos. À minha preocupação com ela. À minha mão estendida. Nada pedindo e tudo oferecendo.
Mentira. Pedi, sim…
Que me deixasse fazer parte da vida dela. Um bocadinho apenas.
Se calhar, pedi demais.
Agora, que quase há 2 anos que passei a barreira dos 40, já sei como esta história vai acabar.
Pela 1ª vez na minha vida, sei como esta história vai acabar.
Pela lei natural da vida, ela há-de morrer primeiro que eu.
E eu irei ao funeral.
Escondida, é claro.
O meu orgulho não me deixa que me vejam, seria provavelmente gozada, uma coisa do género “Olha aquela! Nem no caixão lhe deixa de pedir batatinhas!”
E quando toda a gente se fôr embora, eu aproximo-me da campa, sento-me à beirinha e digo-lhe apenas:
- Apesar de nunca me teres querido na tua vida, e de teres fingido que não existo, podes ter a certeza de que aqueles que partilharam a tua existência, que te amaram e que foram amados por ti, não sentirão tanto a tua falta como eu. Descansa em paz.
E sairei do cemitério com o mesmo amargo de boca que sinto agora.
Meus queridos e queridas amigas que já me conhecem por aqui..
Já sabem que, quando estou um tempo sem escrever ou aparecer, é porque está tudo muito bem ou muito mal, que eu não sou de meias medidas.
E apesar de, na vida real, as coisas não estarem mal (sim, que ninguém me acusará de ser ingrata com a vida e com o Gajo Lá de Cima ou Lá de Baixo), cá dentro avizinha-se um período de lamechice, de me sentir uma coitadinha, uma órfã de mãe viva e blá blá blá….
Que mais vale não vir aqui encher-vos a paciência com dramalhões mexicanos à portuguesa!
(Tenho de ir pedir emprego à TVI, a escrever argumentos para as novelas…)
Portanto, até um dia destes.
Se bem me conheço…. Deixem lá passar a porcaria do Outubro!
Beijão para todos, principalmente para aqueles que tiveram a pachorra de ler até aqui!
Não me conforma a certeza de que Agosto voltará para o ano, como faz todos os anos.. (até ver!).
É sem dúvida, o meu mês preferido!
Assim que termina, lá vem o desconsolado Setembro, que nos obriga a voltar à rotina, o deprimente Outubro, que nos anuncia inexoravelmente o frio e o cinzento, o Novembro que me provoca anseios de Verão, e o Dezembro.
Bem, Dezembro até gosto.
É o mês do Inverno por excelência, faço anos, dá para tirar uns diazinhos no Natal, blá, blá, blá...
Em Janeiro, tudo se renova, com esperanças de que o novo ano será melhor que o anterior.
Mas Setembro....
NÃO HÁ PACHORRA!
Beijão para todos e bom Setembro, se é que isso é possivel..