Porque viver, sobrevivendo, é uma questão de simplicidade...
Segunda-feira, 27 de Dezembro de 2004
TLIM, TLIM, TLIM...

Sei que estava um frio de rachar, mas não resisti.


 Depois da Consoada, do Dia de Natal, das prendinhas abertas e papeis espalhados pelo chão, ainda com o sorriso quente de ver os olhinhos dos filhos a brilhar de contentamento, lá vim para o jardim…


Não sei porquê, mas tinha esperança que o Barbudo se tivesse atrasado por congestionamento de tráfego, e não que pensasse que iria parar outra vez à minha porta, mas talvez o apanhasse no regresso já de pernas cansadas e sem força para OHOHOH.


Noite fria, Natal a passar de fininho, escoando o tempo, céu bonito a pedir estrelas cadentes…


Lá fiz uma oração meio parva, eu já não sei rezar… Parece que pedi desculpa pelo egoísmo consumista.


 E outra coisas que tais, como não conseguir mesmo mudar o mundo, e pior, saber que já não posso mesmo, nunca pude, e a esperança daí morreu….


Pus-me a pensar em todas as pessoas que neste Natal nasceram e morreram. No ciclo imparável de renovação da vida.


 De um Deus Menino deitado nas palhas, e essa coisa toda… De como gostava que toda a gente tivesse ao menos o que eu tenho… e essa coisa toda…


 Começava a congelar-me uma lágrima no rosto, quando ouvi um tlim, tlim, tlim em surdina, caído do cimo de uma estrela.


 Fiz um esforço para me lembrar se tínhamos posto sinos nas árvores do jardim, mas não… apenas luzes… Seria da casa do vizinho? Nã…. Mesmo que tivesse, não dava para ouvir, pois fica muito longe e nem havia vento…


Tlim, tlim, tlim…


Tlim, tlim, tlim… PUUM!


Caiu-me um Barbudo no colo!!


 Mandei um salto e ele, coitado, estatelou-se no chão!


“Podias ser mais simpática e ajudar-me a levantar, não?”


 Arregalei os olhos e estendi-lhe a mão. Era surpreendentemente leve…


“Ai que vida a minha!” – gemeu, enquanto se sentava na cadeira ao lado da minha….


“Ainda sou despedido! “ – suspirou coçando a barba…


“Precisa de alguma coisa?” – balbuciei


 “Basta-me que não contes a ninguém o que aconteceu!” – respondeu-me já sorrindo


Pensando que só podia estar a sonhar, sentei-me ao seu lado, fitando-o de olhos esbugalhados!


 “És o Pai Natal?”


 “Não!!! Sou o coelhinho da Páscoa!!! Estou vestido de vermelho porque gosto de me armar em comuna benfiquista!!”


 “Não é preciso zangares-te! Pensava que não existias!”


“Esse é o meu grande problema! Tenho ordens superiores para não me deixar ver, porque é natalmente impossível chegar a toda a parte! “


 “E qual é o critério de escolha, posso saber?”


 “Nenhum! Vou dando a volta ao planeta Natal após Natal, mas o chato é que quando termino uma, as crianças dessa zona já são adultos, e já não têm direito a nada!”


“Tarefa ingrata!”


 “Pois é.. muito ingrata!”


“Mas ordens superiores de quem, posso saber?”


 “Do Patrão Mor. O Velhote Lá de cima”.


 “Costumas vê-Lo?”


“Não…. Quem sou eu para tal? Recebo as ordens atrás de skymail”.


 “Tinha tanta coisa para te perguntar….”


 “Não vale a pena, porque estou muito atrasado! Tenho de ir já preparar a rota do próximo ano e pôr os duendes a trabalhar…”


“Que pena…”


 “Deixa lá… Olha, ainda tenho aqui uma caixinha de bombons, queres? “


 “Mas eu já sou adulta!”


 “Eheheh… pensas tu! Aceita lá os bombons…”


“Mas não te vão fazer falta?”


 “Não. Para te dizer a verdade, eram para mim, para calar o ratito do estômago durante a viagem de volta”


 “Como te vais pôr a caminho se caíste lá de cima?”


 “As doidas das renas já devem andar à minha procura com o radar. Não tarda ainda sou apanhado pelo Patrão!”


“Mas o Patrão é assim tão mau?”


 “Não, coitado! Anda muito aborrecido e desiludido com a raça humana! E nós Lá em cima é que pagamos! “


“Anda assim há muito tempo?”


 “Há milhares de anos… O que para ele são dias, é claro! “


“Mas porquê??”


 “Porque acha que os Homens já são crescidinhos para se governarem sozinhos, e só têm feito asneiras. E quando as fazem, põe as culpas Nele!”


“Às vezes dá que pensar porque permite Deus certas coisas…”


“Tás a ver??? Lá tás tu com esse tipo de raciocínio! São os Homens os culpados, não Ele! A Humanidade é livre de decidir o seu dia a dia, o seu futuro. Deus é pela democracia, nunca quis impor nada!”


“Pois. E depois pagam os justos pelos pecadores….”


“Isso é inevitável. Se a raça humana não tem amor pelos seus filhos, quem há-de ter? O que se pode fazer? Novo Dilúvio?”


 “Concordo com o livre arbítrio., mas…”


“Mas nada! E olha, mesmo as catástrofes naturais são culpa do Homem. A propósito, amanhã não vejas as noticias. Vai haver porcaria…”


 “Então???!!”


 “O planeta está a ficar saturado de tanto abuso, sabes…”


“Então????!!”


 “Não me perguntes mais nada… Digo-te apenas que vai haver revolta no Mar…”


E dito isto, deu um salto de gigante em colchão de elástico e desapareceu.


 Sem tlim, tlim, tlim….



publicado por Fernanda às 16:00
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