Porque viver, sobrevivendo, é uma questão de simplicidade...
Quarta-feira, 25 de Agosto de 2010
A ESTRELA !!!

 

 

 

Abri os olhos pela primeira vez no firmamento, mas tive de os fechar de imediato…

Não sei como… ao meu lado uma bola imensa de Luz quase rebentava, cegando-me…

 

Cerrei os olhos com força, com mais força ainda, e fiquei a escutar o bater desordenado de um coração feito de pó…

 

Passou muito Tempo.

 

Não sei como, não consegui medi-lo pelas batidas empoeiradas, pelos picos brilhantes que se cravavam na pele.

Fiquei ali à espera que a Luz se aquietasse.

 

Experimentei várias vezes entreabrir os lábios..  para depois ter de os cerrar, engasgada em picos brilhantes que se soltavam dos braços que ainda não tinha podido sentir nem sabia para que serviam…

 

Passou muito Tempo.

 

E eu ali, cerrada. Assustada. Temerosa. Inútil e desamada. A definhar!

 

Sentia o breu que me envolvia, dando-me sopros de coragem para finalmente abrir os olhos e perceber o que era, onde estava….

Mas sempre que o fazia, aquela bola de Luz voltava a encadear-me…

 

Pedi em silêncio. Ao Tempo que parasse. Um pouco apenas…

Mas Ele, inexorável, nem me notou.

 

Mudei um pouco de posição, para que não me doessem tanto os pedaços que me apertavam em cada poro, em cada membro…

 

Nem sei como tive coragem de o fazer, tal o medo que me assolava. A solidão. O peso do Desconhecido…

 

 

Então ouvi uma voz…

 

- Que estás a fazer???? Não te podes mover!!!    Era a bola brilhante que falava…

 

- Não aguentava mais estar na mesma posição… - balbuciei

 

- Não aguentavas mais??? Mas que engraçado!!! Que graça te acho, projecto de estrela imberbe e insolente!

 

- Não precisas de me insultar… nem sei o que sou… a tua Luz encadeia-me, não consigo abrir os olhos…

 

- Já vi que tens um grande sentido de humor! E uma ignorância que agride todos os sentidos! O meu papel é brilhar, sua estúpida… brilhar por brilhar… não apenas para te afectar!

 

- E o meu papel qual é? Ficar aqui na tua sombra, em sofrimento?

 

- Ora esta, o que me calhou em rifa… és insolente, sabes? Nem devias dirigir-me a palavra… o teu papel é ficar aqui, lançando pó a que, ficas a saber, sou altamente alérgica e me faz espirrar! Ficares aí a fingir que brilhas, até explodires!

 

- Explodir??? Mas porquê??

 

- Porque sempre foi assim e sempre será, do Inicio e até ao Fim dos Tempos… Vocês, estrelas, nascem, brilham e morrem… fazendo-me espirrar!

 

- Então… sou uma estrela, não é?

 

- Sim, és uma porcaria de uma estrela entre ziliões de outras, umas maiores outras menores, mas todas desnecessárias, na minha modesta opinião…

 

- Desnecessárias??

 

- Sim, porque o meu brilho é suficiente para alegrar a noite de todos os firmamentos! O sol reina de dia, porque tenho de descansar desta minha tarefa eterna e deslumbrante, e a noite é minha!

 

- Então porque existimos? Não será para te ajudar e dar um pouco de descanso???

 

- Não faço ideia, não sou eu que faço as regras, minha menina… mas se fosse eu que mandasse….

 

Comecei a chorar…

 

Mas que existência seria a minha, ao lado de alguém que não me queria ali…

 

Quanto mais chorava, mais a bola brilhante gritava comigo e espirrava, lançando impropérios engasgados com o pó que emanava de mim a cada soluço…

 

E quanto mais ela gritava, mais eu chorava!

E mais ela gritava….

 

Acabei por parar de chorar e num fio de voz entrecortado, pedi-lhe ao menos que me dissesse como se chamava, onde estávamos, o que era tudo aquilo à nossa volta…

 

Entreabri os olhos e vi-lhe o rosto zangado… belo, imenso, branco e brilhante, prestes a explodir de luz e de raiva…

 

E de repente, daquele rosto omnipresente e enraivecido saiu uma perna que me deu um pontapé tão violento, que me senti cair em vertigem, enquanto a sua voz esganiçada me gritava em eco..

 

- SOU A LUA MINHA ESTUPIDA E O CÉU É MEU!!! Desaparece daquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii….

 

 

Cerrei os olhos de novo enquanto me sentia cair….

 

O ardor do Espaço a cortar-me o corpo esculpiu-me braços e pernas de fogo, tantas que me atrapalhavam o voo….

 

Tentei planar, mas as minhas tentativas foram infrutíferas….

 

Fiquei com a certeza de que o Céu não era o meu lugar e engoli em seco a amargura de não pertencer a lado algum..

 

 

Passou muito Tempo…

 

Tanto tempo, que desisti.

De fugir à queda, de abrir os olhos, de sentir mais do que a dor da viagem sem rumo, sem destino….

 

 

Fiquei apenas à espera… da explosão.

Mas já sem medo. Sem perguntas. Sem querer respostas. Sem nada. Só o Nada.

 

De projecto de cabeça metida no meio dos projectos de braços, encolhida e inerte, sentindo-me cair, sem raiva nem porquês…

 

 

Passou muito Tempo.

 

 

Até que um dia, um dia como outro qualquer, de olhos fechados e coração calado, nesse dia, bati com força em algo fresco, novo e salgado, que me revolveu as entranhas….

 

Aspirei com força um odor que não conhecia, e todo o meu corpo se refrescou e abriu como se nascesse de novo!

 

Abri os olhos…

 

Consegui abrir os olhos!

 

 

À minha volta, múltiplos seres se moviam em elegância e silêncio, dançando mil cores, mil cheiros, delicados e dedicados em não se atropelarem…

 

Abri tanto os olhos que quase me saltaram das orbitas…

 

Mas onde estaria?

 

Lembrei-me da experiencia com a bola brilhante e decidi ficar calada… não perturbar toda aquela harmonia…

 

 

Com sorte, nada nem ninguém daria por mim…. E eu poderia ficar ali, em silencio, em frescura… quem sabe mover-me um pouco, dançar um pouco entre aqueles seres de mil cores, num ondear maior que eles, maior que tudo!

 

 

Mas assim que comecei a mover, vi todos os rostos se virarem na minha direcção!

 

Fiquei petrificada! Encolhi-me de novo…

 

E enquanto esperava sei lá que sentença de não pertença, ouvi um sibilar em uníssono, um murmúrio sussurrado em harmonia …

 

Olhei em volta, pensando que me tinha enganado…

Mas não.

 

 

Aquele canto maravilhoso era-me dirigido!

 

E durou muito Tempo….

 

 

Contendo apenas 6 palavrinhas…

 

 

Sejas Bem Vinda Estrela do Mar!

 

 

 



publicado por Fernanda às 17:07
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Terça-feira, 24 de Agosto de 2010
Mas nem tudo são desgraças!



publicado por Fernanda às 17:20
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Pois..

 

 

Quem me conhece na “realidade” sabe que a minha vida é casa-trabalho e vice-versa (convém… o vice-versa..)…

 

Não vou às compras, não vou sequer beber café ao fim de semana, não saio para lado nenhum a não ser quando sou obrigada…

 

Tenho o meu tempo contabilizado quase ao segundo e tudo o que me faça sair da rotina me complica a vida e os nervos, e atrapalha o dia-a-dia (por exemplo, ter de ir a Lisboa ao hospital ou a casa da minha mãe, estraga-me a semana toda…)

 

É como se eu funcionasse como uma máquina de engrenagem montada, numa gestão apertada de (poucas) forças e tudo o que seja a mais, tem consequências penosas para o meu estado físico e mental… Tenho de me “resguardar” para o que é importante, como vir trabalhar e tratar da minha família e casa…

 

Há alturas em que me revolto tanto com isto, ou porque tive um convite fixe de amigas para sair, ou a minha família quer ir passear, ou eu mesma sinto necessidade de “arejar” e ver outras paragens…

 

Mas infelizmente, em 99 % dos casos, mesmo que eu me encharque em cafeína e medicação, o estado doloroso e de debilidade é tanto, que não consigo ir a lado nenhum…

 

São poucas as pessoas que entendem isto, e já perdi amizades por estar sempre a dizer “não”… pensam que é por preguiça, por mau feitio, por ser parva, sei lá…

 

Mas não é. Infelizmente. Gostava de ser “eremita” por opção e não por imposição..

 

A semana passada, pela 1ª vez, ouvi “ao longe” o meu filho mais novo a dizer que estava com fome, e não consegui sequer mover-me para ir tratar dele…

 

Não consegui ter qualquer reacção… apenas deixei rolar as lágrimas pela cara abaixo e fechei os olhos..

 

Acabei por adormecer vestida, calçada e de óculos na cara, em cima da colcha, de janela do quarto escancarada, sem jantar ou tomar a medicação da noite, porque estava petrificada de cansaço e o meu corpo e mente bloquearam de todo…

 

Quando acordei de manhã “assarapantada”, tentei perceber porque me tinha acontecido aquilo, (tinha de encontrar justificação para o injustificável)..

 

Levantei-me a custo, fui ver como estavam os filhotes, bebi a “injecção” de cafeína que me arrasta da cama até à cozinha, onde me espera outra que bebo ainda sentada no sofá, enquanto espero que o dia nasça e as restantes forças apareçam para começar a labuta do dia…

 

E entretanto percebi…

 

No dia anterior tinha acordado também de madrugada, depois correu um dia de trabalho com bastante movimento, e por fim, tive uma unnusual reunião que correu muito bem (e até me soube tão bem ir até à Casa do Adro, onde não ía há 20 anos..), mas me fez chegar a casa perto das 8 da noite, com 15 horas de trabalho em cima do pêlo…

 

Portanto, se para uma pessoa que não tenha os meus achaques já seria difícil, quanto mais para mim..

 

Não tenho então de me sentir impotente nem culpada por não ter conseguido dar o jantar ao meu filho, e para não volte a acontecer ficar em estado quase comatoso, tenho de me cuidar!

 

Não sei bem como, a minha colega de serviço foi de merecidas ferias e eu vou estar um mês a entrar às 9 e a sair às 18.30…

Não sei se terei forças… a ver vamos e um dia de cada vez, como os bêbados…

 

Já não sei porque comecei com este “conversê” todo…

 

E se calhar não devia estar aqui a lamentar-me, porque já há quem diga que não faço mais nada, como se isso servisse de lição ou desse forças a alguém, ou pelo menos a mim…apenas humilha e envergonha ainda mais…

 

Mas escrever lava a alma, acalma as dores e aquieta os medos, mesmo que mais ninguém leia ou se interesse…

 

E JÁ SEI PORQUE me saiu da ponta dos dedos este blá blá todo!

 

Vinha do almoço e olhei para o meu carro, que é o único que está no estacionamento aqui da junta, no meio do polvoró das obras…

O carrito já é velho e então assim no meio de alcatrão levantado, bulldozers e caterpillars por todo o lado, até dá vontade de rir… ou então chorar…

E vinha então do almoço, olhei para o charrueco e pensei…

 

“Se tivesse tempo, ía à papelaria a Loures ver se encontro um daqueles autocolantes para colar no vidro traseiro e que dizem..

 

MY OTHER CAR IS A PORSHE!!!”

 

 

 



publicado por Fernanda às 15:52
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Saudade...

 

 

 

Mar em mil voltas murmurado, apertado em mãos e corpo sedentos de sal, de agua por todos os poros..

 

Ai Mar…

 

Que sal dos meus olhos não toleraste, que cada lágrima que me salte em saudade mal vivida, tu sempre secas e lanças ao ar em mil gotas rarefeitas…

 

Ai Mar..

 

Que em ti me recebeste de novo, como se pura fosse de vez e outra vez, me deste embalo em cada passar de onda, me enrolando em prazeres esquecidos  por proibidos..

 

Como te pagar, Mar, ouvires em atenção desmedida os meus lamentos torneados em dança de leveza que cá fora já não encontro, os ouvires com atenção antes de os desfazeres em espuma de bolas de sabão…

 

E em ti, meu Mar, me encontrei, em cada carícia doce e salgada que me desfez também em sal e areia milenares, me renasceu, bateu e ardeu até não aguentar mais, desfeita e agradecida me tornou à costa..

 

Para um dia, um dia, meu Mar e meu Amor, quem sabe eu poder fazer de ti o meu sal, o meu sol, todos os dias, todos, de aroma fresco, intenso e único,  em simbiose perfeita que rocha alguma poderá tornar intransponível..

 

Ai Mar…que morro de saudade por ti!

 

 

 



publicado por Fernanda às 10:02
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ESTUPIDAAAAAAAA!!!!

 

 

Podem não acreditar, mas estive este tempo todo sem postar nada, PORQUE ME ESQUECI da palavra de acesso ao blog! Mais, esqueci-me até do mail a que este blog está associado...

 

Hoje, ao procurar outra coisa (que obviamente não encontrei), lá dei com um post it amarelo desmaiado e todo encarquilhado, com a palavra passe desta coisa no fundo de uma gaveta...

 

Toda a gente sabe que a PDI faz destas coisas (não em relação à incapacidade inata de ter as coisas arrumadas para saber onde estão), mas há parte de mim que se recusa admitir que tem de recorrer a auxiliares de memória...

 

(também estou a precisar de uma lupa para além das lunetas, pelo menos para ler) mas ainda não me apetece dar parte fraca!)...

 

Seria a altura de quiça discorrer sobre o facto de, cá dentro, muitos de nós terem adormecido ontem com 20 anos, e acordaram hoje com 45 ou lá perto, portanto...

 

Deixa-me mas é ir trabalhar e deixar-me de filosofias baratas e crises existenciais de trazer por casa...

 

 


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publicado por Fernanda às 09:29
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